Jean Ann dedicou boa parte do segundo dia do workshop à discussão dos elementos cômicos no roteiro de animação.
O humor em animação surge das gags, que funcionam como uma válvula de escape para a tensão. São reviravoltas ou revelações repentinas que rompem com as expectativas do público, provocando surpresa e riso.
As gags devem ser sobretudo VISUAIS, respeitando as motivações, os conflitos e as características dos personagens. Caso contrário, não serão convincentes. É importante que o roteirista conheça os personagens a fundo, podendo tomar partido de seus pontos fracos, trejeitos, manias e modos de falar para construir as situações cômicas.
Jean Ann disse que personagens já manjados como o mandão, o desajeitado, o puxa-saco também podem ser engraçados desde que apresentados de um modo inusitado. Aliás, ótimas gags surgem de situações clássicas apresentadas por ângulos diferentes.
As gags também podem ser construídas a partir dos jogos de linguagem, aliterações, trocadilhos, e até de expressões banais interpretadas literalmente. Foi citado o exemplo de um desenho animado de Tex Avery em que um personagem diz: "Drinks on the House!" (Bebidas por Conta da Casa, ou literalmente, em cima da casa). Ao ouvir a expressão, todos os personagens disputam um lugar no telhado de uma casa para tomar seus drinks.
Foi feita a ressalva de que a gag criada em torno dos jogos de linguagem traduz mal para outras línguas, enquanto a gag visual tem um apelo praticamente universal e, por isso, é preferível para quem pretende vender seu projeto no mercado internacional.
Jean Ann também falou sobre a preparação de "presentation bibles" e as técnicas de pitching. Quanto mais concisos e claros os projetos, mais chance o animador terá de vendê-los. As “presentation bibles” devem ter, além da sinopse da série ou filme, uma descrição breve dos personagens principais. Também é necessário incluir alguns desenhos, especialmente do herói, situando-o no tempo e no espaço em que acontece a história (de 5 a 10 esboços no máximo).
Alguns animadores fazem “pilotos” de 1 a 5 minutos para apresentar no pitching, mas estes não são necessários. Já o storyboard é fundamental na presentation bible dos longas-metragens. Mas Jean Ann alertou, bem ao estilo “gag de trocadilho”, que páginas demais de storyboard deixam os executivos “storybored” (entediados).
Quem quiser ler mais sobre o assunto, pode acessar uma série de artigos de Jean Ann no site da Animation World Magazine. Clique aqui.
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